Com um pouco de sorte, você nunca mais vai se apaixonar

 

“O corpo que vai ser amado é, antecipadamente, focado, manipulado pela objetiva, submetido a uma espécie de efeito zoom, que o aproxima, que o aumenta e que leva o sujeito a nele colar o nariz: não é ele o objeto cintilante que uma mão hábil faz rebrilhar diante de mim e que irá me hipnotizar, me capturar?”
Roland Barthes, Fragmentos de um discurso amoroso

Percorrendo meu arquivo de fotos tiradas por ex-namorados, eu me descobri como objeto do olhar do outro. Selecionei os retratos nos quais miro diretamente o fotógrafo/amante e recortei o contexto original de cada imagem fazendo um corte justo ao redor da minha face nas proporções de documentos de identidade.

Ao ampliar as fotografias antigas para o tamanho real do meu rosto, a definição se esvanece. O desfoque serve como metáfora para as incertezas da memória. Mesmo com pouca nitidez, o olhar voltado para o espectador permanece presente e estabelece um novo momento de intimidade, dessa vez entre a retratada e seus muitos observadores.

 

“Com um pouco de sorte…” participou da exposição coletiva “Expandir o gesto”, realizada em agosto de 2023 no Lux Espaço de Arte, em São Paulo. Sete artistas experimentam as possibilidades de materialização das imagens.